7 coisas que aprendi em 15 anos de trabalho
Reflexões sobre trabalho, identidade e o que fica
O trabalho é um bicho estranho. Já me deu das maiores alegrias e das maiores frustrações da minha vida adulta — e, honestamente, às vezes mexe mais comigo do que muitas histórias de amor.
É só ver os filmes de Natal: ela apaixona-se, claro, mas também muda de carreira. E eu entendo — porque às vezes é mesmo o trabalho que nos parte (ou salva) o coração.
Ainda por cima, passamos muitas horas da nossa vida a trabalhar. E alguns de nós continuam a pensar no trabalho mesmo “fora de horas”. É uma atividade que ocupa espaço, desafia, cansa, entusiasma. Há semanas em que nos sentimos úteis e outras em que nos perguntamos se vale mesmo a pena.
Por isso, quando penso no que aprendi ao longo da minha experiência profissional, vejo também um retrato de tudo o que cresci como pessoa.
7 coisas que aprendi em 15 anos de trabalho
Quinze anos de trabalho parecem imensos e, ao mesmo tempo, passaram num instante. Lembro-me da camisa branca, do calor no metro, do medo que me pedissem para fazer um modelo financeiro difícil. E do entusiasmo de quem ainda acha que, com esforço, tudo se aprende em dois dias.
E agora? Continuo a não saber tudo, continuo a suar antes de certas reuniões, mas sei mais sobre o que vale a pena. E sobre mim.
Aqui ficam algumas das lições mais importantes que levei destes anos.
1. Faz coisas / sê útil a alguém
Quanto mais conheço, do trabalho e da vida, mais concluo que não há nada como fazer coisas. Entregar. Resolver problemas, começar e terminar uma tarefa útil, tomar conta.
Tive um chefe que às vezes olhava para a equipa e dizia só: “façam coisas”. Porque fazer é sempre melhor do que não fazer. Mesmo que não se avance o que se queria, aprende-se.
É o que qualquer chefe quer, mas também é o que nos faz sentir úteis e capazes. Nunca resolvi nada só na minha cabeça. Há tanta gente que passa a vida a justificar por que é que não fez. Faz só.
2. Ninguém se lembra de ti
Pode parecer desanimador, mas é libertador. Aquela vez em que disseste uma coisa meio estúpida numa reunião? Já ninguém se lembra. O erro que te tirou o sono? Já passou há séculos.
As pessoas estão ocupadas demais consigo próprias para te estarem a avaliar a toda a hora. Por isso, podes arriscar mais.
Isto também significa que tens de ser tu a pedir o que queres. Mesmo que aches que é “óbvio” que queres ser promovida, se não o demonstrares ninguém se lembra. Seja uma promoção, um projeto, uma ideia — leva sempre contigo a tua agenda.
3. Não é culpa tua, mas é problema teu
Muitas vezes vais encontrar-te no meio de situações que não criaste: decisões mal tomadas, prazos impossíveis, problemas que caem do nada, sem aviso. Não foi culpa tua — mas agora é contigo.
A realidade é que, para o bem ou para o mal, tudo o que te acontece passa a ser responsabilidade tua. Ninguém tem paciência para desculpas ou justificações. Se conseguires olhar para o problema de frente e agir, mesmo quando não é justo, vais ganhar muito mais do que apenas a solução — vais ganhar respeito e confiança.
Ser adulta (ou líder) é exatamente isso: assumir o que aparece na tua mesa e mostrar que és capaz de resolver. É assim que crescemos, é assim que nos destacamos.
Above all, be the heroine of your life, not the victim
Nora Ephron
4. Desempenha o papel que queres
Se as coisas estiverem bem montadas, começa a ser o que queres ser, antes de o seres. Age como alguém em quem as pessoas podem confiar. Aprende, mostra o que sabes, assume. O mundo reage ao que projetamos — mas também é assim que começamos a construir a pessoa que queremos ser.
Tinha outra chefe que dizia “a zona de conforto é linda, mas nada cresce lá”. Os nervos e o medo fazem parte. A ambiguidade e a incerteza fazem parte. Se tudo correr bem, nunca vais deixar de sentir esse desconforto. É terra que dá fruto.
You better hope it never goes away, child. 'Cause the day it does, is the day you can forget about this business.
Miss Sherwood, “Fame” (1982)
5. Nada vale mais do que a tua credibilidade
Cada vez mais percebo que o mundo é um sítio pequeno. E o mundo do trabalho é um sítio ainda mais pequeno, onde andamos às voltas das mesmas pessoas e dos mesmos temas mais do que gostaríamos de pensar.
O que tens a teu favor, mais do que qualquer CV ou apresentação, é a confiança que as pessoas têm em ti. Na tua palavra, no teu trabalho, na tua consistência. E, ao fim de 15 anos, também já me aconteceu: convites ou recomendações inesperadas, às vezes de quem nem achavas que estava atento.
6. Somos todos pessoas
É fácil começar a viver numa telenovela e transformar todos em personagens: a colega que te irrita, o estagiário que não ajuda, o chefe que põe pressão, o cliente difícil. Mas, às vezes, há um momento qualquer — um desabafo, um olhar cansado — que te lembra que do outro lado também está uma pessoa. Também têm filhos, dores nas costas, uma mãe doente, sonhos por cumprir.
Também só querem que o trabalho lhes corra bem, só querem perceber o raio do Power Point de 40 páginas e ir para casa tirar as calças. E então entra a empatia - e é quando percebemos isto que, não só somos melhores pessoas, mas melhores profissionais.
7. É só trabalho
Sabes aquelas frases deprimentes como “ninguém se arrepende de não ter ficado mais tempo a responder emails”? São verdade, claro, até um certo ponto. Mas também não é preciso vilanizar o trabalho.
O trabalho pode ser bonito. Pode ser um espaço de criação, de impacto, de expressão. Mas não é tudo. Nunca confundas o que fazes com o que és. Tu és o que és — e não há reunião difícil que vá mudar isso.
You are not the work you do; you are the person you are.
Toni Morrison
E tu? Que lições aprendeste com o teu trabalho?
Gostei muito de ler este post, que tem reflexões valiosas sobre o trabalho (e a vida!). Obrigado por partilhares Mana! Aprendo muito a ler o que escreves :)
Obrigada por este post super importante, também passei por algumas experiências que me deram estes ensinamentos. Sempre importante recordar